terça-feira, 11 de janeiro de 2011

"Coisa de Baiano"

Aeroporto de Belém, 8 de dezembro de 2010. Com um grupo de amigos missionários preparo-me para embarcar no vôo com destino a São Paulo, após participar de eventos de Missões no estado do Pará. Acompanha-nos um pastor paraense, um dos responsáveis por nossa hospedagem. Por um descuido qualquer, um dos jovens que nos auxilia, membro da igreja daquele pastor, deixa um carrinho virar e derruba algumas malas. Imediatamente o pastor dispara uma repugnante repreensão: “não faça coisa de baiano!”.
“Coisa de baiano” é uma expressão pejorativamente usada por alguns para se referir a qualquer coisa que seja feita ou falada de forma não desejável. É um termo depreciativo que revela como no nosso país democrático há, lamentavelmente, muita discriminação regional. Quem já não ouviu uma piadinha sem graça sobre o nordestino? Por trás de frasesinhas estúpidas como essa, se esconde um miserável preconceito.
Bem, demorei a escrever esse texto, pois não queria descontar minha raiva através de palavras expostas ao público. Mas não foi possível me conter. Tenho que demonstrar como é grande a minha indignação ao ouvir comentários como esse da boca de alguém que se diz cristão. Não sou baiano de naturalidade, sou fluminense. Mas como brasileiro sou baiano, sou paulista, sou gaúcho, sou cearense, sou do Brasil. Todos que somos filhos da Pátria Amada somos igualmente brasileiros. Não existe raça brasileira ou povo brasileiro superior. São muitos os nordestinos que deram e dão grande contribuição à arte, à música, à política, à ciência, à fé cristã e a outras áreas no nosso país. I love Bahia, I love Rio de Janeiro, I love Brasil!
O que o querido pastor disse não é “coisa de pastor”, ou melhor, não é “coisa de cristão”. Talvez ele não tenha lido nos Evangelhos o que Jesus disse: ‘”cada um deve considerar o outro como superior a si mesmo”. Espero nunca mais ter que fazer uma viagem tão desagradável por causa de um comentário tão banal em algum aeroporto da vida.

Leiam esse texto também no site da editora Ultimato na seção "Palavra do Leitor".