quinta-feira, 3 de junho de 2010

"Com peninha de missionário"




“Quando você me falou que ia trabalhar num país muito difícil, onde há muita perseguição ao Evangelho meu coração doeu... e quando você falou que deixou tudo, bom emprego, família, faculdade, sabe, meu coração doeu mais ainda. Aí eu disse para o meu marido: ‘tadinho, eu tenho que contribuir financeiramente com ele”. Essa foi a fala de uma irmã que me procurou após um culto onde eu estava ministrando sobre o Projeto UNIASIA, que visa levar 120 jovens para o sudeste da Ásia. Esse comentário é lamentável e explico nas próximas linhas o porquê de pensar eu assim.
Pois bem, as palavras da mulher são uma mera representação da idéia que leva a muitos a contribuírem de alguma forma com a obra missionária. Tem muita gente com pena de missionário. Esse não deve ser o sentimento motivador para o apoio a um servo de Deus que atua em Missões locais ou transculturais. O que deve inspirar a contribuição missionária é a consciência missionária, ou seja, o comprometimento de cada crente com a evangelização mundial; a responsabilidade ante ao desejo do coração de Deus de que todos os homens sejam salvos (1Tm 2.4); a obediência ao “IDE” (Mt. 28.20); a paixão pelas almas que Jesus comprou com o derramar do seu sangue inocente; o profundo desejo de ver Cristo ser adorado por representantes de todos os povos, línguas, tribos e nações (Ap. 7.9); alcançar a volta de Cristo nessa geração (Mt. 24.14).
Eu tenho que me comprometer a apoiar o trabalho de um missionário não por pena ou mera obrigação religiosa, mas porque eu entendo que Missões é a prioridade número 1 na vida da Igreja de Cristo.
O choque cultural é um grande desafio para um missionário. A questão da comida, dos costumes, da maneira de ser, da perseguição e intolerância religiosa e também os fatores ligados à vida emocional, como saudade da família, sentimento de solidão, enfim, tudo isso torna a lida do obreiro mais difícil. Isso é verdade. Mas muitos missionários acabam tendo que explorar bastante essas dificuldades quando se dirigem às igrejas locais a fim de levar os crentes a uma comoção que os impulsione a doar seus recursos, seu tempo em oração, seu apoio. Nas conferências missionárias, quando grandes dificuldades no campo são apresentadas, muitos se emocionam, choram e dizem: “eu tenho que fazer alguma coisa pelos missionários!” . Mas quando passa o calor daquele momento a maioria não se lembra de fazer nem uma simples oração pelos missionários e suas necessidades.
O servo de Deus vocacionado, que deixa tudo para levar o Evangelho aos confins da terra, submetendo-se, na maioria dos casos, a uma vida de desconforto, privações e riscos, não é digno da nossa pena, do nosso dinheiro “chorado”, mas do nosso investimento consciente, que se baseia no fato de sabermos que ele é o embaixador de Cristo perante as nações, o representante do Reino, a resposta da igreja ao chamado de fazer discípulos de todas as nações.
O que fez com que a igreja Morávia enviasse e fosse fiel no sustento de seus muitos missionários (1 para cada 12 membros), inclusive daqueles que se venderam como escravos para alcançar os escravos, não foi o sentimento de pena , mas o incrível zelo missionário que envolvia os irmãos morávios.
Missionário não precisa da sua contribuição forçada, não precisa do seu sentimento de pena, não quer ser visto como um coitadinho que precisa de ajuda. Ele espera que você lhe proporcione os recursos para que possa anunciar o Evangelho do Reino porque esse é o seu papel como Igreja. Ele espera que você o “calce com bons sapatos” não por pena ou por desinteressado dever religioso, mas simplesmente porque você enxerga que são belos os pés dos que anunciam boas novas (Is. 52.7)!

Respeitosamente,

Diniz.

2 de junho de 2010.