segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A irmã Maria

A irmã Maria não é rica, não tem status, não tem um dízimo gordo. Ela mora no morro, é aposentada e ganha um salário mínimo. Ontem ela celebrou as suas Bodas de Ouro.
Ao parabenizá-la por tal conquista em seu casamento, me veio à mente algumas reflexões. Comecei a pensar em tudo aquilo que essa amada irmã tem feito pelo Reino de Deus e pelo próximo.
Ela visita os enfermos nas casas e nos hospitais. E não há sol causticante que a faça desanimar de descer o morro e levar carinho aos doentes. É uma destemida evangelizadora e uma guerreira na oração. Muitas vezes a vi orando fervorosamente pelos missionários envolvidos na tarefa da evangelização mundial. Ela não tem muito dinheiro a ofertar, mas tem as lágrimas sinceras de um coração que se apega com todas as forças a Deus. Nunca vi um trabalho promovido por sua igreja para o qual ela não tenha sido a primeira a se apresentar. Sempre firme no seu lugar, fazendo tudo com amor e alegria. Jamais a vi reclamando, apesar de não ter dinheiro ou bens e enfrentar problemas da vida cotidiana. No seu rosto é sempre possível encontrar um sorriso amável, nos seus lábios, palavras que vêm de Deus, e em suas mãos, obras que glorificam o Senhor.
Ela não sabe teologia, mas conhece a Deus; não sabe definir Paracletologia, mas em sua vida se identifica nitidamente o fruto do Espírito; não entende sobre Kenosis, mas nela há o mesmo sentimento e a mesma humildade que houve em Cristo Jesus.
Nesse tempo de tanta hipocrisia religiosa, de tanta valorização do ter em detrimento do ser, de tanta busca pelo sucesso egoísta dentro e fora das igrejas, de tanta disputa pelo poder eclesial, de tanta manipulação do Evangelho visando vantagens escusas e privilégios inescrupulosos, de tanta soberba ministerial, que o Senhor preserve as “irmãs Marias”. Que vejamos mais pessoas que desejam viver o Evangelho puro e simples, cujo interesse é ver Cristo exaltado e nós diminuídos. Pessoas que queiram servir a Deus e ao próximo, sem esperar recompensas e galardões humanos. Pessoas que se importam em agradar o Mestre.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Oração sincera de um missionário


Senhor, livra-me desse modelo de missionário:

Que se importa com a salvação de almas, mas se esqueço do cuidado de pessoas;
Que faz muitos convertidos, mas poucos discípulos;

Que prega o Evangelho do Reino, mas não demonstra o Evangelho nem os valores do Reino.

Que trabalha por igrejas implantadas, mas não pela melhoria das comunidades sofridas;

Que deseja erguer um templo novo, mas não lutar pela dignidade do povo;

Que deseja hastear a bandeira denominacional, mas pouco se importa com a justiça social;

Que deseja livrá-los do inferno escatológico, futuro, mas e o inferno presente, no mundo?

Que olha para o pobre, oprimido, injustiçado, doente e abandonado e diz: “o problema não é meu nem da igreja, é do Estado”. Isso não é Evangelho integral, mas mutilado, alienado.

Que diz: “meu negócio é levar essa gente pro céu; que se exploda esse mundo, essa babel!”.

Que abre a boca para pregar, mas fecha os olhos não para ver e os ouvidos para não escutar.

Que com o seu pensamento cartesiano separa o corpo da alma imaterial, não vendo o homem como um todo, como um ser integral.

Que tem paixão pelas almas, mas não pelas histórias, pelas vidas.
Que tem muita fé, mas não obras.

Que deseja lá pregar e lá viver, mas com os problemas do povo não se envolver.

Senhor, ao me enviares, me faças ser povo do povo, gente da gente; não quero ser omisso, indiferente. Quero ser um descontente lutador, que não se conforma com o pecado que distancia as almas de Deus, mas também inconformado com a aristocracia que nega aos homens os direitos que são seus.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

"Com peninha de missionário"




“Quando você me falou que ia trabalhar num país muito difícil, onde há muita perseguição ao Evangelho meu coração doeu... e quando você falou que deixou tudo, bom emprego, família, faculdade, sabe, meu coração doeu mais ainda. Aí eu disse para o meu marido: ‘tadinho, eu tenho que contribuir financeiramente com ele”. Essa foi a fala de uma irmã que me procurou após um culto onde eu estava ministrando sobre o Projeto UNIASIA, que visa levar 120 jovens para o sudeste da Ásia. Esse comentário é lamentável e explico nas próximas linhas o porquê de pensar eu assim.
Pois bem, as palavras da mulher são uma mera representação da idéia que leva a muitos a contribuírem de alguma forma com a obra missionária. Tem muita gente com pena de missionário. Esse não deve ser o sentimento motivador para o apoio a um servo de Deus que atua em Missões locais ou transculturais. O que deve inspirar a contribuição missionária é a consciência missionária, ou seja, o comprometimento de cada crente com a evangelização mundial; a responsabilidade ante ao desejo do coração de Deus de que todos os homens sejam salvos (1Tm 2.4); a obediência ao “IDE” (Mt. 28.20); a paixão pelas almas que Jesus comprou com o derramar do seu sangue inocente; o profundo desejo de ver Cristo ser adorado por representantes de todos os povos, línguas, tribos e nações (Ap. 7.9); alcançar a volta de Cristo nessa geração (Mt. 24.14).
Eu tenho que me comprometer a apoiar o trabalho de um missionário não por pena ou mera obrigação religiosa, mas porque eu entendo que Missões é a prioridade número 1 na vida da Igreja de Cristo.
O choque cultural é um grande desafio para um missionário. A questão da comida, dos costumes, da maneira de ser, da perseguição e intolerância religiosa e também os fatores ligados à vida emocional, como saudade da família, sentimento de solidão, enfim, tudo isso torna a lida do obreiro mais difícil. Isso é verdade. Mas muitos missionários acabam tendo que explorar bastante essas dificuldades quando se dirigem às igrejas locais a fim de levar os crentes a uma comoção que os impulsione a doar seus recursos, seu tempo em oração, seu apoio. Nas conferências missionárias, quando grandes dificuldades no campo são apresentadas, muitos se emocionam, choram e dizem: “eu tenho que fazer alguma coisa pelos missionários!” . Mas quando passa o calor daquele momento a maioria não se lembra de fazer nem uma simples oração pelos missionários e suas necessidades.
O servo de Deus vocacionado, que deixa tudo para levar o Evangelho aos confins da terra, submetendo-se, na maioria dos casos, a uma vida de desconforto, privações e riscos, não é digno da nossa pena, do nosso dinheiro “chorado”, mas do nosso investimento consciente, que se baseia no fato de sabermos que ele é o embaixador de Cristo perante as nações, o representante do Reino, a resposta da igreja ao chamado de fazer discípulos de todas as nações.
O que fez com que a igreja Morávia enviasse e fosse fiel no sustento de seus muitos missionários (1 para cada 12 membros), inclusive daqueles que se venderam como escravos para alcançar os escravos, não foi o sentimento de pena , mas o incrível zelo missionário que envolvia os irmãos morávios.
Missionário não precisa da sua contribuição forçada, não precisa do seu sentimento de pena, não quer ser visto como um coitadinho que precisa de ajuda. Ele espera que você lhe proporcione os recursos para que possa anunciar o Evangelho do Reino porque esse é o seu papel como Igreja. Ele espera que você o “calce com bons sapatos” não por pena ou por desinteressado dever religioso, mas simplesmente porque você enxerga que são belos os pés dos que anunciam boas novas (Is. 52.7)!

Respeitosamente,

Diniz.

2 de junho de 2010.